Fábio passa aquela faixa oriental na cabeça e veste seu kimono. Parece que ele vai lutar – ou talvez vá, mas a roupa é porque ele vai começar mais uma noite atendendo desconhecidos no restaurante japonês que trabalha de terça a sábado. E hoje ainda é sexta.
Antes de entrar no restaurante, Fábio estava sentado no meio-fio da calçada atrás do poste do outro lado da avenida de frente para um pequeno bosque que tem ali, ele estava aficionado no celular. Ele poderia estar vendo o Facebook, dando uma passada no XVideos ou checando o WhatsApp. Mas não, ele estava revendo as fotos da época de escola, vendo como rumos tão distintos, se tornaram caminhos desconhecidos. Principalmente pra ele, que se considera sonhador e várias vezes, escravo do medo.
Voltando pra noite. Pronto pra luta, Fábio atende as mesas, indica sushis bons e bebidas recomendadas para cada peça pedida. Tenta se divertir no trabalho, é recebido com grosseria e olhares desconfiados algumas vezes também. Pensa em recuar, mas arma dentro do seu coração elementos com altruísmo e leveza pra encarar o round da hipocrisia e ostentação dos que acham ele fraco perto daqueles que mostram seus relógios de ouro e ternos caros. Eles não sabem, mas riqueza para Fábio é a tranquilidade de um coração ao dialogar com a natureza sendo parte dela, um amigo compartilhar uma vitória ou, simplesmente, receber uma gratidão. Riquezas essas invisíveis aos olhos muitas vezes, mas que passa a sensação que somos infinitos muito mais do que uns zeros a mais na conta do banco.
Dá a hora de ir embora. Fábio pega sua mochila, se despede dos ‘sushimans‘, segurança e pensou no gerente, mas este foi embora por achar que seu cargo é chefia, ao invés de liderar. Mas Fábio não sabe disso, e apenas segue caminho para o ponto de ônibus.
Corujão, o último ônibus chega, Fábio e o motorista se conhecem, são parceiros de empatia e respeito de saberem que estão ali apenas tentando realizar seus sonhos e quitar umas contas que estão na cabeceira dos seus cantos.
Sentado naquela cadeira alta do ônibus, Fábio observa a cidade deserta, luzes dos postes e a prefeitura trocando as lâmpadas do laranjas por de led. Depois de três bairros e sabe lá quantos pontos, é chegada a hora de descer. Ele não percebe, a cabeça dele flutua longe, pensamentos, saudades e momentos permeiam a mente e o corpo cansado parece estar mais anestesiado, do que cansado. Ele desce.
Já em casa, ele joga a chave, percebe o celular descarregado, coloca um som no notebook. Na cozinha, pega um Nescau em caixa e olha pra dentro da geladeira sem entender porquê, até resolver ir pro quintal. Sentado no chão ele olha o céu estrelado, acende o baseado e percebe a música ao fundo ao ouvir: “Não importa aonde estamos, nossa mente é o nosso lar“.
É Fábio, estar tranquilo consigo, as vezes, é mais importante que estar caçando alguns sentimentos sem sentido. Que assim seja.
PS: A frase do título e que encerra o texto é oriunda da música do grupo de rap Oriente.