Sabe, na vida a gente tem essas ideias de que amores vêm, paixões são momentâneas e se a gente tivesse falado aquilo para aquela garota, o contexto bem que poderia ser um pouco diferente. Quando a gente é guri, o mundo passeia entre algo complicado e simples ao mesmo tempo.
Com Nícolas não foi diferente. Garoto tímido, sonhava em trabalhar com arte, de amizades que faziam valer à pena a palavra ‘parceria’ e uns amores marcaram sua vida. Um desses amores foi como a Júlia, garota branquinha, inteligente, com um gosto apurado para filmes de Tarantino, Kubrick ou David Fincher e faro para Ciências Naturais.
Eles não sabiam, mas quando se conheceram iniciariam uma história daquelas recheadas de amores para uma vida, sexo matador e conselhos de amigos. E foi assim, ambos foram bem felizes e até pensaram nos nomes dos filhos e como seria o casamento naquela catedral na parte histórica da cidade ou no meio do mato (?).
Namoraram, noivaram e os amigos tinham certeza que a união estável de ambos consolidaria-se no casório que ambos sonhavam.
***
Nícolas e Júlia cresceram, formaram em suas respectivas áreas e são bastante felizes com a concretização de sonhos antes permeados e cultivados na mente.
Logo que compraram seu Corsa Sedan e dividiram apartamento, ambos sentiram como seriam uma vida bem à dois. Dividem contas, planejam jantares, comentam sobre a lista do supermercado e se é boa ideia comprar um Ukulelê ou cultivam um jardim no canto da sacada do apartamento ou pega um cachorro pra cuidarem.
Para Nícolas, a vida segue boa e sempre que pode, tira um tempo pra correr. Já Júlia, como toda mulher, é inquieta, está feliz, mas pensa em viver outras coisas. Não que Nícolas não seja um bom cara, ela sabe que ele é, mas as experiências da vida trazem horizontes para serem conhecidos. E ela estava pensando nisso.
Um belo dia, às 13h20, Nícolas deixa o carro em casa, prefere ir de ônibus trabalhar e coloca seu fone para seguir a viagem em um universo paralelo. Minutos depois do ônibus seguir viagem, um lugar faz-se presente e uma garota senta ao lado e cede o lugar para o então rapaz de barba mal-feita e camisa quadriculada. Nícolas senta, no fone toca Criolo e, para ele, a vida segue boa.
Guardando a sua garrafa de água, esticando o braço no bolso frontal da mochila para pegar um Halls, seu celular vibra. Era uma nota programada que Júlia deixou para ele ler. Lá havia escrito:
‘Nícolas, não pude recusar aquela experiência em Fernando de Noronha, você sabe, curto os animais, as plantas e pode me agregar muito profissionalmente. Não é nada pessoal, você um cara incrível, de uma energia vibrante e com visões de mundo que muita gente não entende e preferem te caçoar. Mas eu estou te deixando, não me odeie por isto. Eu te amo muito e se cuida. Júlia’
Ele, ali na segunda com seus 26 anos, já passou por perrengues e hoje entende que a tranquilidade é um sinal de que ele não está mais aqui para brincar.
Sem alarde e serenidade, ele então fechou a nota, pausou Criolo, retirou os fones, guardou-os, olhou para garota ao seu lado e disse calmamente: ‘Olá, tudo bem?’
Nícolas, mal ele sabe, mas a vida mudou depois que ele tirou os fones e desfrutou das simplicidades da vida iniciada com um simples: ‘Olá, tudo bem?’.