Prazer, Irene! (Foto: Jonas Sakamoto / SobreOTatame.com)
Dona Irene tem um quiosque em que vende guaraná da amazônia e encara sua noite de trabalho com educação no atendimento e ganha sua clientela com atenção a preparar cada pedido. Mas, recentemente, depois de um papo de vinte minutos, descobri uma história de sabedoria e alegria com ela.
“Se tu quer algo, trabalha pra isso! Sabe há quanto tempo eu tenho essa barraca aqui meu filho? Treze anos, há treze anos tiro meu sustento daqui e, quando a Blitz Urbana chega, eles me veem trabalhando na legalidade. Eles não mexem comigo e sabem que trabalho duro e sou honesta no que faço. E não adianta ficar resmungando, tem é que agradecer”.
Comento concordando, no entanto prefiro mais ouvir, do que interferir. Então ela continua seu momento misturando assunto como natureza, humildade e sabedoria:
“O homem precisa se cuidar, a natureza tá morrendo. Sabe, a natureza está sofrendo, o homem precisa cuidar mais dela, ela é muito bondosa conosco. É um presente de Deus. O homem precisa ser mais humilde, humildade desde dar um bom dia, boa tarde ou noite, mas para isso precisamos ter uma boa educação e reconhecer o próximo como igual”.
Nesse meio tempo, dois moradores de rua se aproximam – o local é uma pequena praça numa rotatória e lar de duas dúzias de moradores de rua -. São usuários de drogas, grávidas e pessoas que se alimentam com ajuda de alguns grupos de apoio e a igreja católica em frente. Mas, acredite, todos eles respeitam a dona Irene. E aí um deles, logo após achar uma pequena caixa de isopor, solta:
“Irene, podia te vender, mas essa caixinha é tua!”, e aí ela agradece e exclama para os rapazes: “Meninos, cuidado!”
Em seguida, continuando a nossa conversa e os guaranás sendo embalados ela conclui:
“É preciso olhar para todos com o mesmo zelo que se olha para a família. Que além de cuidar de quem se ama, tem que cuidar de quem não se conhece“.
Dona Irene é do interior do Maranhão, da cidade de Turiaçú e veio para São Luís, capital do Maranhão, com 13 anos de idade. Ela é mãe, irmã, amiga e companheira. Solteira e com seus 43 anos não tem filhos. A metáfora com a palavra “mãe” anteriormente citada, é pelo fato dela ajudar a irmã na criação das sobrinhas. Católica fervorosa, vende guaraná da amazônia há 13 anos no mesmo local no bairro da Cohab e é dona de um humor autêntico e acredita que só estar vivo é um presente e não economiza modos ao tratar bem as pessoas pois, para ela, é assim que o seu Deus age.
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Pessoas que Inspiram é um quadro que tem como objetivo contar histórias de pessoas do cotidiano, que tem uma história de vida e, as vezes, é esmagada com a avalanche de pré-conceitos, olhares, julgamentos, mas, que na verdade, esconde uma história de vida que pode se assemelhar com a minha ou com a sua. É um quadro que visa buscar empatia. Até porque, temos que respeitar cada pessoa que olhamos nas ruas.