Levantei hoje com o objetivo de cortar o cabelo. Tomei café e fui ao banco. Já na fila do banco gastei uns 40 minutos presenciando confusões, bate-boca e muita paciência, mas consegui sacar a grana pro corte. Chego na barbearia e falo com o Edison (que terá sua história em breve por aqui), o meu barbeiro, e ele me avisa que tem duas pessoas na vez. Falo que vou aguardar e sento no banco na porta do salão e, de repente, me atento a movimentação de um pequeno senhor e sua barraca de DVDs piratas.
Depois de observá-lo todo zeloso ao colocar um plástico para cobrir seu “ganha-pão” da chuva rápida que caiu e, em seguida, usar todo um aparato (que é possível ver na foto acima) para apoiar o guarda-sol em cima de sua mercadoria, não resisti, o chamei e perguntei seu nome e iniciamos uma conversa de cerca de 20 minutos que compartilho nas linhas a seguir:
“Já trabalhei 15 anos de empacotador em supermercado, já vi de tudo. Vi gente chegar entregando currículo, a pessoa receber, ir atrás da loja (pelo que entendi onde fica o depósito com as mercadorias e onde fica a gerência de estabelecimentos assim) e quando não ver ninguém por perto, jogar fora o currículo da pessoa que entregou no lixo. Isso é uma falta de respeito, fica iludindo a pessoa. Chega e diz que não tem emprego, é melhor“.
Feito esse resgate de sua história, perguntei sobre sua barraca:
“To com essa barraca há quatro anos, eu mesmo faço meu horário. Durante a semana fico aqui nesse ponto e pedi com o dono da loja de tecido (ao fundo da foto) para ficar aqui e ele deixou. Ele até acha melhor porque não chega carro estacionando aqui. Já no fim de semana, vou ali para praça (a mesma praça que tem a barraca de guaraná da dona Irene) e vendo meus DVDs lá“.
“Eu ficava na praça, mas a Blitz vem e leva tudo. Diz que vai devolver, mas não devolve nada“. César sabe que é errado comercializar DVD pirata, mas é o ganha pão dele: “Eu sei que é errado, mas já tentei voltar trabalhar, mas na minha idade, ninguém oferece emprego“.
Fiquei curioso com um dado sobre suas vendas, questionei qual o tipo de DVD que mais sai. Ele sorriu, se aproximou e falou: “Sai muito pornô, sabe.”, aumentou o tom e em seguida completou conversando normalmente: “Sai muito filme e DVD voltado para as crianças também“.
César Junior, ou Cesinha como todo mundo o chama, é solteiro, tem uma filha, mora com o irmão e o sobrinho. Vende DVD pirata porque não consegue emprego devido sua idade e dificuldade de ofertarem emprego para ele. De voz baixa e calma, comentou que na região que ele fica na feira, todo mundo se conhece e se respeita.
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Pessoas que Inspiram é um quadro que tem como objetivo contar histórias de pessoas do cotidiano, que tem uma história de vida e, as vezes, é esmagada com a avalanche de pré-conceitos, olhares, julgamentos, mas, que na verdade, esconde uma história de vida que pode se assemelhar com a minha ou com a sua. É um quadro que visa buscar empatia. Até porque, temos que respeitar cada pessoa que olhamos nas ruas.