No dia da ida à Capela de São Pedro, em São Luís, enquanto esperava o ônibus para ir pra casa de uma amiga, uma senhora muito simpática se aproximou. Vinha da casa de sua irmã, que mora próximo à Praça do Letrado, no bairro do Vinhais. Com ela, havia assistido a novela enquanto comia bolo com café. Logo quando chegou, avistou no banco da parada de ônibus uma garrafa quase vazia de água, deixada por um garoto que acabara de sair. Pegou a garrafa, lavou suas mãos com o restinho de água e reclamou sobre a necessidade de colocar o lixo no lixo. Disse que ficava horrorizada quando via bitucas de cigarros jogadas no chão, inclusive na nossa praça. Mas tudo isso de uma forma muito humilde e suave. Eu comecei a prestar atenção. Enquanto isso, um cara em um carro passou na nossa frente, quase parando e ficou me encarando. “Ainda bem que ela estava lá!“, pensei. E ela com muito humor o encarou de volta, que logo saiu. Ela começou a rir, lembrando dos seus tempos de jovem. Começou a me contar da sua época de ensino médio, quando, por vezes, alguns moços ofereciam caronas. Disse que naquele tempo não era essa violência que é hoje, uma vez que agora não pode mais se confiar em ninguém. Nem em taxista. Ou mototaxista. Confessou que morre de medo de pegar ambos. Mas que antes, bem, antes elas e as amigas chegavam a conhecer viajantes na praia e fazer belas amizades. Era uma época boa, relatou ela. Emendou dizendo que a questionam se ela ainda namora. Ela disse “ora se não“. Disse que sempre falam a ela que ainda possui aparência de jovem para idade que tem, 79 anos, se me recordo. Seu marido morreu cedo. Aproximadamente aos 50 anos, não me lembro a idade exata. Nem a doença. Mas segundo o relato dela, foi por causa da bebida. Por isso que hoje ela não quer namorar ninguém que beba muito. A não ser que tenha o “TCHAM“, mas se não tiver o “TCHAM“, então nem vale a pena o esforço. Descarta logo. Falou que não tinha filhos. É estéril. O marido também era. Porém parece não lamentar, pois corria o risco de beber como o pai, já que o marido bebia como o pai. Disse que só quem teve filhos foi a irmã. E que uma mora nos EUA. Outra morreu aos 5 anos. Doença rara. Contou que era uma criança linda. Perguntei se poderia tirar uma foto. Havia gostado da sua espontaneidade. Seu jeito de falar. Simpatia não gratuita, mas sincera! Seu sorriso. Seus olhinhos pequenos que “todo mundo diz que ela quase não tem rugas e que então iria desenhar algumas“. Ela aceitou. Riu um pouco. Então eu cliquei. Conceição é o seu nome. Achei que combinava. Conversamos algumas outras coisas que eu não lembro agora. Era pra eu ter gravado, mas confiei na minha memória. Ela sempre falha. Lá vem o Vinhais-São Francisco, entramos, dei tchau, atravessei a catraca. Mas provavelmente ainda vou encontra-lá pelo bairro. Dona Conceição, figura conhecida.
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Pessoas que Inspiram é um quadro que tem como objetivo contar histórias de pessoas do cotidiano, que tem uma história de vida e, as vezes, é esmagada com a avalanche de pré-conceitos, olhares, julgamentos, mas, que na verdade, esconde uma história de vida que pode se assemelhar com a minha ou com a sua. É um quadro que visa buscar empatia. Até porque, temos que respeitar cada pessoa que olhamos nas ruas.