Semana passada, comentei com um amigo: “as melhores lições que tiro da vida são de conversas que participo e/ou observo”. Pois bem. Nos últimos dias, estive em algumas delas, e um ponto comum me chamou a atenção: a mentira.
Quando eu era “guri”, era o melhor amigo dela e parecia que eu dizia uma frase assim que acordava: “vou lhe usar”. Usava para contar vantagem na escola, para que eu fosse respeitado, para que achassem que tinha muitas coisas em casa (apesar de nunca mostrá-las) e, principalmente, por ser a mais recorrente, para demonstrar que detinha uma quantidade de conhecimento superior aos colegas que conversavam comigo – e em áreas mistas, desde as de maior domínio, como música e cinema, até em núcleos que não fazia a minima ideia do que comentar, como economia e futebol.
O tempo passou (e eu sofri calado) e eu pude amadurecer isso em mim: prefiro 98% a honestidade (sejamos sinceros, há exceções em todos nós), sendo bem franco com quem quer que seja, e preferindo a humildade de dizer “Não”, “Não conheço”, “Não sei” e qualquer outra frase que revele a sinceridade de não saber/ter/querer algo.
Ok, em mim isto foi (parcialmente) resolvido. Mas como ajudar quem comete tais vícios ainda? Um dos meus amigos mais próximos está preso nisso – e faz um tempão. Vou tentar ilustrar melhor esta situação com um exemplo recente: em uma conversa sobre cinema, ele se dirigia aos demais como profundo “conhecedor” do assunto. Aos chegarmos em um comentário sobre adaptação de um clássico oriental, ele afirmou categoricamente ter vistos ambos: o original e a versão norte-americana. Perguntei se ele havia visto os dois e ele confirmou oralmente e acenando. Segundos depois, foi questionado, por outra pessoa, os detalhes da adaptação estadunidense. Ele ficou em silêncio, fingindo não ter ouvido a pergunta. Em seguida, se embananou nas palavras e se contradisse: afirmou, no segundo momento, ter visto apenas o primeiro filme. Não seria melhor ter dito que não viu o(s) filme(s) do que “ostentar” algo extremamente superficial?
De certa forma, eu consigo entendê-lo. A mentira nos dá um (falso) poder de superioridade ou, dependendo das mentes mais perturbadas, ela pretende anular a inferioridade que carregamos conosco. Além disso, mentir traz uma satisfação efêmera de que, para os alvos menos avisados, os mentirosos são ícones a serem seguidos e fontes de informação “seguras”.
Desde os 18 anos, prometi a mim mesmo que seria sincero e falaria a verdade, doesse a quem for. Falar a verdade, em muitas situações, me trouxe credibilidade, segurança e confiança. Neste último caso, principalmente: alguns amigos meus me procuram pelo fato de que, de mim, eles sabem que ouvirão uma opinião sincera.
O problema é de quem recebe a verdade: muitos não estão prontos e, para piorar, entendem a verdade como confronto direto ou uma rivalidade planejada.
Confesso que sou otimista quanto a mentira: carrego o pensamento de que as pessoas conseguirão se converter e realmente entender que a mentira, de fato, tem perna/vida curta.