Ainda Escuto Álbuns #5: “Quando Deixamos nossos Beijos nas Esquinas” e Vanessa da Mata fazendo macumba de beijo!

(Foto: Rodolfo Magalhães / Divulgação).

Dois anos depois de Caixinha de Música, álbum por quem percorreu o Brasil inteiro em turnê, Vanessa da Mata retorna com Quando Deixamos nossos Beijos nas Esquinas. A cantora vinha, sutilmente, apresentando alguns trabalhos, depois de lançar o single Só você e eu, junto com um clipe. A musa não perdeu muito tempo em apresentar o álbum completo, já disponível em todas plataformas digitais (o que eu, como boa ansiosa, amei!).

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Quando Deixamos Nossos Beijos nas Esquinas é um álbum bem brasileiro: sensual, dançante e apaixonado. Assim como nos trabalhos anteriores, Vanessa traz mensagens claras sobre sentimentos, autoestima, amor, paixão, família e amigos.

Vanessa da Mata que já tem trabalhos com Baiana System e Emicida, nesse álbum convida o jovem Baco Exu do Blues, que vem na segunda faixa do disco numa música bem diferente do rap que está acostumado a fazer, mas brasileiro como é!

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Além de uma intérprete incrível, Vanessa da Mata é também uma compositora de mão cheia: o álbum mostra mais uma vez isso ao longo de 11 músicas, quase todas escritas por Vanessa.

Nesse trabalho, a cantora se mostra também uma produtora maravilhosa, pois sim, o álbum foi produzido por ela mesma!

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Vamos falar de cada musiquinha? A parte que eu mais gosto!


Faixa a faixa em poucas palavras

Arte da capa de Quando Deixamos nossos Beijos nas Esquinas, novo disco de Vanessa da Mata (Foto: Rodolfo Magalhães).

Só você e eu: primeiro faixa do álbum, é o single que foi lançado como pontapé da divulgação. A música conta a história de alguém já tomada pela desilusão de viver um novo romance, mas que é surpreendida, pois, afinal, ainda existe amor. É uma música muito romântica, sem nenhum pudor, quase uma daquelas cantigas trovadorescas. Mas o clichê também é gostoso de ouvir de vez em quando, não é? Eu amei.

Tenha dó de mim: é nesta música que temos a voz de Baco fazendo o contraponto dessa brincadeira sensual e sexual que eu achei muito gostosa de ouvir. A música te leva um espaço de festa, dança, onde você sabe que tem alguém ali te olhando e que você também está olhando e, enfim, a brincadeira do “vou-não-vou” é o ápice (talvez melhor que a coisa consumada, rs, ninguém sabe!). Como é digno do seu rap, Baco vem como a figura masculina, carinhosamente e sensualmente falando sem papas na língua que “sua bunda mexendo é um brinde à vida! […] Seu corpo é ouro, meu toque é Midas!”.

Ps.: puxando a sardinha pra São Luís, o início da música me lembra muito a batida de tambor de crioula daqui, e, se você não lembra, ou não sabe, Vanessa esteve aqui no Carnaval e viu uma roda de tambor bem na Madre de Deus, descalça e feliz, dançou com as coreiras na periferia mais tradicional da capital! Segue vídeo da cantora no meio do povo ❤

https://www.instagram.com/p/BupwLSgFGVq/?utm_source=ig_embed&utm_campaign=embed_video_watch_again

Quando deixamos nossos beijos nas esquinas: é a música que dá título ao álbum e fala sobre compartilhar um amor, espalhar o bem-estar por meio dos beijos. “Macumba de beijo” é o refrão gostoso que é repetido e soa como mantra pra mim.

Ajoelha e reza: já perdi as contas de quantas músicas da Vanessa eu já cantei pra superar um pé na bunda ou uma falta de respeito – chegou mais uma pra conta! Nessa, uma mulher já cansada de insistir numa relação, agora pisa sem se importar e manda ajoelhar e rezar o homem que, antes, gostava de vê-la sofrer e agora vem atrás justo quando ela está bem. Acho pouco, a gente tem mais é que aproveitar como ela: “Quando a vida andou e eu fiquei cheia de opção, ai que diversão, dia e noite eu naquela farra, sem alergias, ai como era bom!”.

Nossa geração: nesta música, uma reclamação latente (que vem aparecendo em todos os álbuns que tenho ouvido recentemente) sobre nossos atuais costumes: gente que não se dispõe a amar, a romancear para além do sexo, onde é estranho expressar amor para além das quatro paredes.

Demais pra mim: quando ouvi pela segunda ou terceira vez, a única coisa que meio veio à cabeça como imagem desse turbilhão de sentimentos e sensações que a cantora conta na música é uma mulher tendo um orgasmo com o homem que ama: “centenas de anjos cantam, mil rosas brancas brotam, o mundo enche de paz e eu sinto Deus”. Desculpem-me se minha mente é “suja”, pra mim isso é a coisa mais linda que eu já li recentemente!

Debaixo da saia dela: amo a Vanessa cantando samba! Esse é super gostosinho de ouvir, você consegue ouvir e ver a historinha se passando na frente dos seus olhos: um menino, comida pra mosquito, fica hipnotizado por uma mulher com uma saia comprida e pergunta: “o que ela leva debaixo daquela saia com tanto cuidado?” — um pé de jacarandá! O mundo debaixo de uma saia é gigante, menino!

Vá com Deus: é um tapa na cara! Acordei hoje super pra baixo e a música veio me dar um gás, me forçando a responder à pergunta: “Qual é o problema de estar na sua própria companhia?” E, mais que isso, a encarar minha própria companhia como uma honra! De alguns relacionamentos não nos despedimos, nos livramos, e só no resta dizer: “Vá com Deus”. Após isso, fazer o que der na telha, cultivar a independência, aprender a ser feliz sozinha! Sem desespero, sem criar histórias e pessoas e sem viver sob o medo da solidão.

Dance um reggae comigo: depois de ouvir um batida que me lembrou o tambor, ouvir um reggae no mesmo álbum é muito pra um coraçãozinho ludovicense! Sem pecar, Vanessa expressa a filosofia desse ritmo numa composição que enaltece a simplicidade da vida, das pessoas e das experiências que quem se permite viver tem, cantando e cultivando a liberdade, afinal “Sonhar! Presa eu não sorrio, presa eu não gosto, presa eu não me entrego, presa eu não vivo, quem é solto, não precisa de aditivos! Sejamos soltos, dance reggae comigo”.

O mundo para Felipe: é um canção carinhosa, maternal para o filho mais velho, Felipe (Felipe e as irmãs moram na Europa). A música transmite um carinho maternal que não sufoca, se preocupa, mas libera o filho para vôos maiores: “soltei sem segurar, te dei o mundo todo, aí você voou, o mundo é muito grande e isso me custou”. Nessa música, Vanessa é sincera sobre as dificuldades em ver o filho, sobre a vida de uma cantora de MPB, sobre a saudade e a linha tênue entre proteger e soltar. Que sortudo o Felipe!

Hoje eu sei: é uma música que fala sobre maturidade. Só quem se permite experienciar, experimentar, é que pode ir descobrindo com quem pode de verdade contar e só depois de limpar o caminho, tirar aquilo que nos prende, é que de verdade nos abrimos às vivências e pessoas novas e boas para nós: “O tempo entregou você depois que aprendi dizer não e retirei o que me atrasava; limpei minha estrada antiga, mudei minhas velhas formas, fiz a faxina pra você entrar”.


Espero que vocês ouçam e se deliciem com cada composição, aproveitem o máximo, essa mulher é incrível

Steffi de Castro é psicóloga. Atua em São Luís como designer instrucional e escritora. É redatora no SobreOTatame, escreve e estuda sobre música, feminismo e comportamento. É estudante de tarô, dançarina amadora, podcaster, adora ASMR e a vida offline.

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