17 de abril. Domingo. Dia de uma votação importante para o País. Poderia ter sido mais um desses dias cinza. Mas para alguns, foi um dia cheio de cor, arte, cultura, resistência, amor e aconchego no casarão sede do novo Centro de Cultura de São Luís.
Aliás, aconchego é uma palavra que representa bem esse novo lugar. Cada canto, cada detalhe, cada pessoa em que ali podemos dividir um espaço parecem dizer “entre, a casa é sua”. É um abraço em forma de ocupação.
Até mesmo o calor de alguns momentos, ficava em segundo plano diante de toda energia que emanava naquele lugar.
Assim, apresento a vocês o Centro Multicultural Upaon-Açu – Re(o)cupa, inaugurado domingo (17), na Rua Afonso Penha, próximo a Praça João Lisboa:
Ideia que surgiu de um grupo de amigos, o Re(o)cupa, conforme o release do projeto: é um espaço plural, aberto para as mais diversas manifestações artísticas e que traz novas perspectivas culturais para o coração de São Luís.
“A nossa motivação maior foi a vontade de reocupar o Centro Histórico, daí o nome da nossa casa. Mas não é ocupar simplesmente por ocupar. É retornar ao centro trazendo arte, cultura, economia criativa, consciência social, ambiental, diálogo com a comunidade, entre outras pautas diversas que guiam as nossas ações”, afirma Deuza Brabo, uma das idealizadoras do projeto.
A casa é dividida em três ambientes: A Casa Fala, Mercado das Pulgas e Rangar.
A Casa Fala
A proposta da Casa Fala é que seja um ambiente aberto para os artistas desenvolverem seus trabalhos, por meio da residência artística, mini feira de livros, saraus, encontros literários, oficinas, cineclube, debates sobre os mais variados temas e definições de ações para reocupar com arte. Além de integrar a comunidade com temas sobre economia sustentável, saúde, arte em várias linguagens e estratégias de ocupação do Centro Histórico, minimizando as mazelas do abandono.
Esse último ponto é de extrema importância. Enquanto estávamos lá, eu e meus amigos observamos os casarões ao lado. Ficamos encantados de como, mesmo diante do abandono, elas ainda apresentavam tanta beleza e história. Divagamos em como seria lindo ver todos aqueles casarões reformados e ocupados com projetos como o do Reocupa, que disseminam valores que se encontram ausentes em nossas comunidades. Reocupar é preciso! Falar sobre é preciso!
Rangar
O Rangar tem como temática a alimentação saudável. Oferta comidas vegetarianas e veganas, e tem como objetivo criar uma feirinha orgânica com agricultores da Baixada, que, além de diminuir a distância com o pequeno produtor, dimunui nossa relação com alimentos carregados de agrotóxico e geneticamente modificados.
Como a abertura da casa se deu desde 11h da manhã, nada melhor pra um domingo do que uma feijoada vegana. Embalada ao som de Luciana Pinheiro. E já ao anoitecer, o rango da vez era um delicioso churrasquinho feito com carne de soja e verduras.
Além disso, a casa estimula a prática da redução do uso do copo descartável, solicitando aos visitantes que levem seu próprio copo ou caneca, para beber água ou outra bebida. Da mesma sorte, entendem que água não se comercializa, por isso ficam espalhados pela casa alguns filtros.
Mercado das Pulgas
A casa que respira sustentabilidade. Tem no espaço Mercado das Pulgas uma resistência ao consumo exacerbado, sendo local de venda e consultas de peças em bom estado, como livros, CD’s, discos, fotos, artes plásticas, brechós e outros a fim de serem reaproveitadas por novos usuários.
Durante todo o dia fomos agraciados com diversas manifestações artísticas, com a apresentação de Luciana e Seus Camaradas do Samba; as músicas do DJ Pedro Dread Locks; a performer Tieta Macau; Declamação de poesias; o brilho e batuque do Maratuque Upaon-Açu, que faz todo aquele ritmo mergulhar na nossa alma; e os shows singulares de Sulfúrica Bill e Coletivo Gororoba.
Estampado nas paredes do casarão estava as belíssimas mulheres da instalação Marias, da artista e designer Maria Zeferina, curitibana que mora há quatro anos em São Luís. O trabalho é composto por 10 imagens de mulheres, usando a técnica lambe-lambe, a partir de fotografias e manipulação de imagens em programas gráficos.
Por fim, a ideia central do Re(o)cupa é a AÇÃO COLETIVA. Não atoa o título deste artigo é “lugar que parece um lar”. E lar a gente cuida. Diante disso, o único ponto que me incomodou é que alguns ainda tinham um olhar de “uma nova casa de eventos” quando vai muito além disso. Vi muitos copos no chão e cascos espalhados por todo o local, e sei que são atitudes que estão no nosso modo automático. Portanto, se a mudança começa na nossa casa, vamos fazer do Re(o)cupa uma casa de mudanças, externa e internamente. De nós, para o resto da cidade. Essa é a proposta do projeto: trilhar seu caminho por meio do diálogo com a comunidade, engajamento e contribuição de todos. Ocupar o espaço público é isso.
O horário de funcionamento da casa é de terça a domingo, das 11h às 23h, e estará sempre aberta para a diversidade artística e cultural.
Você pode acompanhar a programações e se organizar para visitá-la na página do Facebook do Re-o-cupa clicando aqui!
A resistência começa agora!