A modelo Zozibini Tunzi. Foto: Reprodução/Instagram.
Por Débora Melo, em colaboração ao SobreOTatame
Eu cresci em um mundo onde mulheres como eu, com a minha pele e o meu cabelo, nunca foram consideradas bonitas. Chegou a hora de parar com isso. Eu quero que as crianças olhem pra mim e vejam os seus rostos refletidos no meu.
Zozibini Tunzi
A noite do dia 8 de dezembro, nos estúdios Tyler Perry, localizado na região sul de Atlanta, Estados Unidos, ficará marcada na história da vida, que é movimento no qual estamos todas, pela vitória de Zozibini Tunzi, sul-africana eleita miss universo 2019.
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Zozibini coloca a beleza negra em primeiro lugar no universo, após oito anos sem vitórias nossas. A última negra que havia ganhado o concurso foi a miss Angola, Leila Lopes, em 2011. Zozibini é apenas a 5ª miss universo negra em 68 anos de edição do concurso.
Em todo o mundo, mulheres negras se inscrevem em concursos de beleza, e dificilmente têm êxito, assim como nas seleções para comerciais ou nas disputas por campanhas publicitárias. Nossa imagem negra não é a boa, não ta pronta, não vende! Somos coisa que falta, que precisa ficar clara, fina, limpa. Pois é tudo o que não somos.
A miss universo tem a pele preta, o cabelo crespo e curto! E tem nome, sobrenome, estuda e discursa. Não é apenas um corpo negro, não é a objetificação, a estatística do encarceramento ou da morte. E, mesmo assim, não é o bastante, mesmo sendo muito importante. Ainda assim, Zozibini é uma exceção das mulheres negras que chegam a finais de concursos, e talvez nós queremos ser a regra.
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Queremos poder escolher se queremos ser a regra, queremos poder! Ainda nos dizem que não podemos nada. Nos lugares, nas roupas, nos currículos, nas entrevistas, nos olhares, nas escolhas.
A vitória de Zozibini representa para meninas e mulheres negras como eu, não só uma vitória sobre como nos vemos, como não nos vemos bonitas, como não nos vemos elogiadas, como não nos vemos na televisão, como não nos vemos como centro de qualquer coisa da vida que seja positiva.
Representa que mexemos em algo, Zozibini acreditou que poderia ser a mais bonita do universo e ela é tão bonita quanto as negras da periferia de São Luís, ela é tão bonita quanto as negras das favelas no Brasil, ela é tão bonita quanto as negras dos quilombos que existem nesse país, ela se parece com a gente!
Mulheres negras de todo o mundo podem se olhar no espelho e enxergar beleza em si e considerar que podem chegar onde quiserem estar! Zozibini coloca o mundo para nos ver!
Estamos pôr vir, somos muitas ainda a demandar, com as cores retintas, os traços grossos, os crespos armados e com muito pra falar.
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Débora Melo é maranhense, negra, poeta, dançarina e cientista social. Para conhecer mais do trabalho dela, pela @ do Instagram: @mello.debi.