Saudade do tempo que descia na parada de ônibus e chegava até em casa de boa só recapitulando o saldo do dia e pensando se to realizando meus sonhos.
Me via algumas vezes perdido, outras vezes sonhador e outras inerte demais. Olhava, também, a vizinha com aquele ritual sagrado de acender o cigarro e ver o pessoal andando na rua e carros pra lá e pra cá no seu caos particular.
Nem sei se é saudade de uma velha infância, ou de como as coisas operavam nos detalhes de dias que iniciavam às 6h da manhã e terminavam as 0h com os sapatos no chão do quarto, Pantera no notebook e o corpo estirado na cama com o celular apitando e aquela mensagem da minha mãe perguntando se iria jantar ou comer pela rua mesmo.
Pensando nisso tudo, me peguei lembrando das risadas de dias alegres, suor dos difíceis e gratificantes em meio aos engarrafamentos de avenidas apertadas. Quando abro a mochila está lá aquele livro do velho Leminski. Ao abrir me deparo com o seguinte poema:
“nascemos em poemas diversos
destino quis que a gente se achasse
na mesma estrofe e na mesma classe
no mesmo verso e na mesma frase
rima à primeira vista nos vimos
trocamos nossos sinônimos
olhares não mais anônimos
nesta altura de leitura
nas mesmas pistas
mistas a minha a tua a nossa linha“
Não sei, de repente, percebi que não estava sozinho preenchendo essas linhas. Mas sim, vários de nós.
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PS¹: aos que levantam e vão dormir com uma sensação de inércia e movimento dentro de si. Assim, tudo ao mesmo tempo no balanço do cotidiano.
PS²: um obrigado ao brother das palavras Alysson Augusto do blog Ano Zero pelo insight involuntário pro título do post.