Não são raras às vezes em que eu me sinto um estranho nessa jornada humana.
Eu não consigo enxergar motivo para risada nesse ritual de visibilidade das “Pessoas atrasadas” do ENEM. Quando vejo uma pessoa correndo e sendo barrada no portão, começo a imaginar uma série de razões pelas quais a pessoa não conseguiu chegar até o local para realizar uma prova que poderia ser um passaporte para uma vida mais digna. Daí começo a me questionar: O que eu sei da vida dessa pessoa? Eu não calcei os sapatos e nem percorri o caminho que essa pessoa andou. É injusto enquadrar essa pessoa no meu referencial de privilégios e possibilidades.
Eu penso nas milhões de pessoas que não possuem famílias com carro disponível para o deslocamento. Penso nas milhões de pessoas que dependem de transporte público. Quem sou eu para rir e julgar a realidade alheia?
Quando olho para pessoas e jornalistas que montam um circo na frente das escolas para rir de quem não conseguiu realizar a prova, eu sinto um nó na garganta. É possível constatar um ar de julgamento superior de pessoas prontas para jogar pedra nas “Genis” e a ausência de empatia para saber a razão pela qual a pessoa não conseguiu concretizar um passaporte para uma meta importante da vida.
As redes sociais se tornaram um símbolo da necessidade do gozo rápido que muitas pessoas querem ter (ou ser) com o próximo Meme.
Acredito que cada pessoa pode desenvolver uma pergunta como forma de exercício diário: a minha risada é a melhor resposta que posso dar ao sofrimento alheio? Se sim, é chegada a hora de ampliar a consciência para reconhecer os próprios privilégios e se colocar no lugar da outra pessoa. Evoluir como ser humano só se torna plenamente possível quando cada pessoa toma decisão diária de abraçar a alteridade.
