Ilustração do artista visual Beto França/Divulgação.
Cresci escutando que estava gorda, que deveria emagrecer, fazer dieta, plástica, arrumar os dentes, depilar os pelos, dentre muitas outras coisas que as pessoas se sentem à vontade para dizer, como se o nosso corpo fosse da conta delas. Até chegar ao meu momento atual, fiz milhares de dietas loucas (que tal café preto, ovo cozido e espinafre no café da manhã? Ou se alimentar apenas com líquidos por dias?), busquei cirurgiões para avaliar uma redução de mamas, coloquei aparelho nos dentes, experimentei todos os tipos de depilação que vocês podem imaginar.
E isso tudo me levou a pensar no quanto nos violentamos para satisfazer a ideia distorcida de beleza que a sociedade nos impõe. Já aviso que esse não foi um aprendizado fácil, nem mesmo consigo me convencer dele todos os dias. Depois de tudo que passei, em alguns dias, ainda é muito difícil escolher uma roupa e me sentir confortável com ela, sendo um número maior do que eu costumava comprar. É difícil convencer a si mesma que não é preciso entrar na menor roupa possível.
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Se isso é tão penoso para mim, imagino para as mulheres que estão ainda mais distantes do padrão. Porque, hoje, já consigo ver mais mulheres com o meu corpo, minha cor, meu biótipo em revistas ou no cinema. Muito diferente do que foi durante a minha infância e adolescência, quando cultuado era o padrão “branca, alta e extremamente magra” (vocês se lembram das Paquitas, né?). Mesmo assim, sei que outras mulheres ainda estão longe de se sentirem representadas.
E beleza importa?
Outro dia, uma conhecida comentou nas redes sociais que deveríamos nos libertar dessa ideia de beleza, que não precisamos nos achar bonitas. Sinceramente, não sei se esse é o caminho. Talvez seja realmente libertador não utilizar a beleza como parâmetro quando temos inúmeros outros muito melhores. Mas, ao mesmo tempo, acredito que todo mundo deveria se sentir bonito pelo que é, porque acho que a beleza transcende nas mais diferentes formas. Pode ser o sorriso ao conseguir o primeiro emprego ou o brilho no olhar de quem vê sua prole pela primeira vez. Não sei se vamos em algum momento nos libertar da ideia de beleza, mas acho que deveríamos trabalhar para alargá-la infinitamente, até que caibam nela todos os corpos, cores e feições.
O meu caminho
Hoje, tenho calças que vão do 36 ao 42; compro blusas P, M e G; não pinto mais as unhas, porque não vejo sentido nisso dentro da minha rotina; lavo meu cabelo só com xampu na maioria das vezes; só penteio os cabelos quando e lavo e olhe lá; não vou reduzir minhas mamas porque odeio a ideia de passar por uma cirurgia; não faço mais dieta porque entendi que, algumas vezes, terei comidas maravilhosas, que não vou deixar passar, e, em outros momentos, estarei realmente com pouca fome. Mas tudo isso sou eu, minhas escolhas, meu jeito de lidar comigo e com meu corpo. Não é perfeito e está longe disso, que o diga meu sedentarismo.
No entanto, sinto que me respeito muito mais que antes e acho que é isso que realmente importa. Para nós mulheres, nessa sociedade tão desigual e violenta com o nosso gênero, respeitar-se é um processo. Nem todo dia, a gente vence a batalha.
Então, se eu posso fechar esse texto com um aprendizado meu, que pode ser útil para você que está lendo agora, é: encontre-se, conheça-se e se respeite. E, quando vierem falar coisas inconvenientes, pergunte se não querem pagar seus boletos para ganharem o direito de opinar sobre o que só compete a você. Uns chamarão de grosseria, eu de objetividade.
Iniciativa Elas SobreOTatame
Este texto faz parte do Elas SobreOTatame: uma iniciativa do SobreOTatame que aborda temas do universo feminino ao longo do ano, em textos, podcasts, encontros presenciais e convidados especiais. Tudo isso sob o comando da mulherada do site.
No segundo bloco, ocorrido entre abril e junho, a temática foi sobre Maternidade:
- Nós e nossas mães: uma reflexão sobre a relação entre mãe e filhas
- Violência obstétrica: a maternidade não deve começar assim!
- Puerpério: seis relatos de experiências sobre a desromantização do pós-parto
- 2º Encontro Elas SobreOTatame: Maternidades
- Com apoio da SEMU, Encontro Elas SobreOTatame debate sobre “Maternidades” em nova edição
- Às mães solo, com amor e empatia
Cada bloco dura três meses, com uma temática escolhida. O primeiro foi sobre Prazer Feminino e Autoconhecimento. Durante os meses de janeiro a março, vários materiais sobre esta temática foram publicados:
Podcast SoT EP01 – Do Luxo ao Lixo: experiências em apps de paquera
Tornando-me mulher com outras mulheres
Elas SobreOTatame entrevista Seane Melo