Eu tinha sete anos quando o filme Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros foi lançado. Por volta desse mesmo período, colecionava as figurinhas de dinossauros do chocolate Surpresa (só os jovens vintages vão lembrar). Todas essas memórias vieram como um lampejo ao assistir uma mesa redonda na qual estavam presentes Marcelli Ibaldo e seu pai, Marcel Ibaldo, na segunda edição do Multiverso Geek, realizada na cidade de Santa Maria-RS, no último dia 8.
Aos sete anos, Marcelli e Marcel Ibaldo criaram a Tê Rex, uma série de tirinhas desenhadas por ela e roteirizadas por ele sobre as aventuras cotidianas de uma tiranossaura nerd. Juntos, inventaram o nerdismo pré-histórico. Neste ano, pai e filha lançaram o primeiro livro compilando as tirinhas, que chegou a ficar em 1º na lista de mais vendidos da Amazon e foi finalista do Prêmio LeBlanc.
Hoje, Marcelli está com 12 anos. Durante a Multiverso Geek, vestia uma camiseta do Jurassic Park e falava sobre seu processo criativo. Conhecer a Marcelli me trouxe a lembrança da Ingrid de sete anos, que adorava dinossauros, queria ser arqueóloga e se perdia desenhando por horas. Eu não poderia sair do evento sem bater um papo com os dois sobre desenhos, dinossauros e afins, para o Sobre o Tatame.
Entrevista
Como foi que você começou a desenhar?
Marcelli Ibaldo – Eu era bem pequenininha. Tinha uns quatro ou cinco anos. Eu sempre fazia uns rabiscos. Gostava muito de desenhar, principalmente, dinossauros, porque eu via nas revistas e nos desenhos animados. Assistia tutoriais no Youtube para aprender mais.
Marcel Ibaldo – Muitos desses rabiscos ela fez na parede da casa da vó dela, no início (risos).
O que te atrai tanto nos dinossauros?
Marcelli Ibaldo – Eu não sei exatamente o quê, mas, quando eu era pequenininha, tinha esses desenhos informativos, que explicavam os dinossauros e eles me incentivaram muito. Olhava os livros e revistas que tinham pela casa. Tentava copiar os desenhos, porque eu ainda não sabia ler. Hoje em dia, eu pesquiso dinossauros e adoro paleontologia.
Marcel Ibaldo – E a gente usa esses conhecimentos para criar novos personagens. Quando vamos criar uma personagem nova, pensamos na personalidade, mas, também, em usar dinossauros que nunca usamos. Aí pergunto para ela: a personagem vai ser assim, qual espécie que tu achas que ele deve ser? Ela escolhe me mostra e a gente parte pra criação.
Eu vi que você está com a camisa do Jurassic Park. Recentemente, lançaram os filmes novos, mas você já assistiu os antigos?
Marcelli Ibaldo – Eu amo os filmes antigos mais que os recentes. Porque eu já li o livro do Jurassic Park, que é bastante informativo e tem uma história envolvente. Os recentes (filmes) são diferentes, têm o roteiro diferente. Eu nunca vou esquecer o amor que eu tenho pelo Jurassic Park original.
Leia também | Projeto Emaranhado cria campanha de boas ações pelas ruas de São Luís
Os teus colegas do colégio gostam das tuas tirinhas, do fato de você desenhar?
Marcelli Ibaldo – Tem trabalhos da escola que a gente tem que fazer uma ilustração e eles vivem dizendo: Marcelli é desenhista. Os professores dão mais atenção.
Vocês têm várias tirinhas nas quais questionam as chamadas “coisas de meninas”. O que você pensa sobre isso?
Marcelli Ibaldo – Eu acredito que menina pode gostar do que quiser, assim como menino pode gostar do que quiser. Meninas não precisam gostar apenas de bonecas. Elas podem se expandir e gostar de literatura, qualquer estilo musical que quiser, seguir a carreira que quiser e aprender o que desejar, sem ter um limite.
Leia também | Ilustrador faz releitura de cartas de Tarô com temática nordestina
Marcel, você já trabalhava com HQ antes?
Marcel Ibaldo – Eu já trabalhava com isso antes. Acho que toda criança gosta de desenhar, mas chega um ponto em que elas aprendem que aquilo não é coisa de gente grande. Mas a Marcelli via que eu já era adulto e continuava gostando de cinema, quadrinhos, super herói, e continuava desenhando e publicando. Para ela, acho que foi como pensar: eu posso gostar disso e investir meu tempo nisso, porque talvez tenha um futuro nisso. A gente vai descobrir ainda se vai chegar nesse ponto.
O fato de ter uma filha, fez você despertar um olhar crítico sobre a presença de meninas e mulheres nesse mundo nerd?
Marcel Ibaldo – Eu já tinha uma percepção com relação a isso. O fato de ela querer adentrar esse mundo me fez aprofundar ainda mais esse pensamento, porque comecei a ver o conflito e receber questionamento de pessoas próximas. Perguntavam: “onde já se viu uma menina gostar disso?”. Tinha o elogio, mas vinha a crítica. Muitas vezes, nem tinham lido a tira, mas vinham com essa crítica. Com o crescimento, ela foi se questionando e fui fortalecendo que ela poderia gostar do que quisesse, que isso não iria definir ela, ou se definir, será para algo muito bom.
Qual dica você dá para outras meninas que gostam de desenhar?
Marcelli Ibaldo – A gente pode gostar do que a gente quiser. Meninos e meninas devem ter liberdade para escolherem o que quiserem.
Para conferir mais trabalhos dos dois, é só clicar aqui.A Tê Rex também está nas redes sociais Facebook e Instagram. Afinal, como diz a máxima do Twitter: infância feliz é infância com dinossauro.