The Bitch is Back: 3 cenas e um destino em “Rocketman”

Cena do filme “Rocketman” (Foto: Divulgação).

Texto de Aline Alencar, em colaboração ao SobreOTatame.com

Fiquei mais fã não somente dele, mas do modo como ele mesmo vê/viu toda a sua trajetória¹. Dos altos aos baixos. O que é ferida, o que era só um drama queen.

Poderia comentar diversas cenas icônicas do filme que conta a trajetória de Sir Elton Hercules John no longa-metragem Rocketman (2019), além da entrega maravilhosa, não só profissional, mas sentimental em atuação, voz e performance corporal de Taron Egerton no papel principal. Mas separo aqui para vocês apenas três cenas relacionadas à fantasia vermelha com lantejoulas, enormes asas e chifres negros.

Já no começo do filme, na primeira cena das três que quero retratar, vemos Elton entrando com esta roupa gloriosa e o telespectador pode inferir que ele está entrando em mais um show, dando a ideia de glamour. Então, segundos depois, vemos que não é tão glamouroso assim. Elton está em uma clínica de reabilitação, em uma terapia em grupo.

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Conceitos à parte sobre como é difícil a reabilitação, pulamos desta para a segunda cena de análise deste texto. Rumando para o desfecho, ele se arruma nos bastidores, faltando apenas as asas e o chifres para então, Elton entrar em ação nos palcos.

Em sua extensa carreira de 56 anos, o pianista não deixou faltar aos seus fãs uma apresentação visual menos do que o esperado: muitas cores, fantasias e bom humor. Nesta cena, depois de toda a emocionante história dele contada durante boa parte do filme, já sabemos que nessa hora ele não está com o seu brilho de sempre.

Taron Egerton vive Elton John em “Rocketman” (Foto: Reprodução).

No auge do seu vício em álcool, cocaína, remédios, entre diversas outras coisas, a mesma roupa vermelha de lantejoulas, longas asas e grandes chifres se ressignifica nessa cena. Ao colocarem as asas nas costas dele, apesar de serem de material aparentemente leve, a sensação transmitida é a de peso. Mas não um peso que possa ser medido fisicamente.

É o peso e o fardo dessa fama e vida desenfreada nos ombros do compositor britânico. Claro, essas cenas foram divididas intencionalmente para nos causar essa sensação e, assim, a empatia já criada por ele durante todo o filme só faz aumentar.

E aí chega a terceira e última cena a ser comentada neste texto. Ao som de Goodbye Yellow Brick Road (música em alusão ao clássico Mágico de Oz, diga-se de passagem²), Elton segue determinado e cheio de ira à clínica de reabilitação. Pois bem, é a mesma cena do começo, porém, como foi dito anteriormente, totalmente ressignificada. Com um novo olhar. Ao entrar, a iluminação e a câmera lenta com as penas da roupa caindo lentamente, porém brilhando intensamente, nos mostra também um glamour, mas de outro tipo.

Elton John e Taron Egerton (Foto: Divulgação).

Essa cena não é mais o glamour do sucesso, mas o da redenção, o de recuperação. O glamour de buscar se libertar internamente e finalmente se encontrar, perdoar e se perdoar, além de saber que, apesar de tudo, continua sendo uma pessoa tão merecedora de amor como qualquer outra.

O fato é que, como parte da produção de sua cinebiografia, Elton John não teve vergonha de mostrar estes altos e baixos de sua vida. Pelo contrário, a forma lúdica de cada cena nos mostra que deve-se aprender com cada momento, olhar com carinho e, por que não, com grande audácia os próprios tropeços.

Vemos, com uma gostosa satisfação, que a vadia estava de volta, completamente sóbria e continuava de pé, melhor do que nunca. Uma sobrevivente. Por que não aprender com ela?


¹Elton John participou de boa parte da produção do filme, escolhendo inclusive o ator que o interpretaria e cantaria suas músicas.

²Na história original e em filmes posteriores com base nele, como The Wiz (1978), Dorothy Gale deve encontrar a estrada antes de embarcar em sua jornada.


A jornalista Aline Alencar (Foto: Arquivo Pessoal).

Nota editorial: o SobreOTatame.com é um site que produz conteúdos de cidadania, comportamento e cultura. Por meio dos conteúdos que publicamos, acreditamos na informação como força de educação e discernimento, desta maneira, abrimos espaço para profissionais que possam tratar de temas mais especificamente.

Aline Alencar é maranhense, nascida e criada em São Luís. Graduada em Comunicação Social, habilitação em jornalismo, pós-graduada em Metodologia do Ensino Superior e divide a vida séria de adulta com música, filmes, animes, séries e com doses de política de boteco para ensandecer. Uma eterna saudosa da MTV dos anos 2000. Twitter: @ahhhline_ / Instagram: @alheeene.

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