Top 10 discos nacionais interessantíssimos lançados em 2020

Aqui neste site nós cultuamos a música brasileira e levantamos essa bandeira com bastante orgulho! (Foto: Divulgação).

Eu, particularmente, ouço anualmente os lançamentos que chegam aos meus canais de streaming (por onde ouço música) e gosto de descobrir as novidades que rodeiam a música produzida em território nacional. É certo que nem a pandemia conseguiu paralisar os trabalhos previstos para lançamento no primeiro semestre desse ano – então aqui o objetivo é reunir 10 trabalhos interessantíssimos desse segmento.

Meu critério de inclusão para considerar que um trabalho seja um disco (e não um EP) foi o de que ele haja, pelo menos, sete faixas. Eu sei que houve excelentes EPs lançados nesse período, mas nessa lista entraram somente discos. Além disso, a curadoria é minha e eu decidi que não chamaria essa lista de “melhor” alguma coisa porque suspeito que esse conceito seja relativo, especialmente quando falamos de manifestação artística.

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Sem mais delongas, vamos a lista (que está disposta em ordem alfabética)!

Acorda Amor, de Várias Artistas

Acorda Amor é, antes de tudo, um manifesto ao amor e à liberdade de expressão. Nascido de um show colaborativo reunindo as potências femininas Liniker, Letrux, Luedji Luna, Maria Gadú e Xênia França, o resultado é o presente disco – lançado pelo Selo Sesc.  Com direção artística dos talentosos Décio 7 (Bixiga 70) e Roberta Martinelli (Cultura Livre), o disco aglomera 5 vozes únicas da nova geração da música brasileira. O disco é também um apelo que surge num momento tão difícil da nossa história: acorda, amor! Com releituras de clássicos da nossa música e novas canções potentes, o disco encerra com um poema poderoso de Edgar.

Não deixe de ouvir: A vida em seus métodos diz calma, Obaluayê e Comportamento Geral.

CORPO SEM JUÍZO, de Jup do Bairro

Por muito tempo trabalhando ao lado de Linn da Quebrada, Jup do Bairro lança agora seu primeiro disco solo, cujo título-manifesto é um indicativo do que está por ouvir: Corpo Sem Juízo. O disco é uma verdadeira epifania do discurso contemporâneo de todos e todas aqueles que foram silenciados e silenciadas em suas potencialidades de vida. Numa mistura enérgica de rap, funk e rock, Corpo Sem Juízo recebe ainda as presenças da própria Linn da Quebrada, além de Rico Dalasam, Deize Tigrona e Mulambo.

Transgredindo ao padrão, ao ultrapassado e ao arcaico, Jup do Bairro mostra nesse disco porque o discurso na arte não deixa de ser um manifesto político.

Não deixe de ouvir: Transgressão, O Que Pode Um Corpo Sem Juízo? e O Corre.

Histórias da Minha Área, de Djonga

Seguindo a tradição de lançar um disco por ano, Histórias da Minha Área é 4º disco de estúdio do rapper mineiro Djonga. Depois de 3 discos muito bons, Djonga chega (ainda) mais maduro e orgânico, cantando rimas sobre a sua história e a história dos seus. Com produção de Coyote Beatz, o disco conta com participações de Bia Nogueira, NGC Borges, FBC, MC Don Juan e Cristal. Há diversos motivos para que Djonga seja hoje o mais elogiado dos rappers brasileiros e um deles, sem dúvidas, é o fato de que em cada linha que ele tem a oportunidade, ele exalta as suas origens ao mesmo tempo que afirma a sua identidade e o seu discurso. Como a canção de abertura diz: cê só vai ser o maior do Brasil depois que for o maior da sua rua.

Não deixe de ouvir: O cara de óculos, Oto patamá e Gelo.

Letrux aos Prantos, de Letrux

Depois do efusivo Em Noite de Climão, Letrux volta com seu novo disco intitulado Aos Prantos – provocando um pouco da dualidade que suas duas eras evocam. Lançado em março de 2020, no início da pandemia do novo coronavírus no país, Letrux certamente não imaginava que o disco pudesse expressar tão bem os sentimentos de uma quarentena. Aos Prantos passeia pela sonoridade eletrônica, sem deixar de lado a crueza dos instrumentos que choram enquanto ela canta ao longo do disco. Aqui é permitido chorar, suar e gozar – só não pode magoar.

Com participações de Liniker e Lovefoxxx, Letrux canta no disco sobre o amor, a dor, a tristeza e a alegria de viver.

Não deixe de ouvir: Dèjá-Vu Frenesi, Estou Aos Prantos e Sente o Drama.

Meio, de Marcos Lamy

Em ponte aérea profunda entre Maranhão e São Paulo, o maranhense Marcos Lamy lança seu novo álbum intitulando-o a partir desse movimento. Meio é um denso e prazeroso mergulho nas águas da música percussiva brasileira, explorando os mais diversos instrumentos de percussão. O disco é resultado dessas conexões que o cantor, compositor e percussionista fez ao longo dos anos.

A produção e pós-produção do disco aconteceram nos dois estados, assim como conta com diversas participações ilustres nos vocais: Núbia (MA), YMA (SP), Luiza Brina (MG), entre outros. Meio é a mescla entre a sonoridade do que há de mais nativo e a narrativa de afeto e resistência do que há de mais atual em cada um de nós.

Não deixe de ouvir: Fazemos Igualzinho, Nunca Vou Morrer e Virá.

Mundo Novo, de Mahmundi

Mundo Novo, novíssimo trabalho da cantora, compositora e produtora Mahmundi, inicia com um discurso de Paulo Nazareth dizendo que ser humano é ser plural. A pluralidade faz parte essencial desse disco, que conta com colaborações nas composições, incluindo nomes como Castello Branco e Frederico Heliodoro. O som new age continua presente, mas, dessa vez, Mahmundi abraça as sonoridades do que compõe o mais simples e singelo na música brasileira, que são os instrumentos orgânicos de base como o violão, a guitarra e a bateria.

Nesse disco, menos é mais e, num ambiente tão chafurdado de inovações e implicações sobre o futuro, Mundo Novo acaba por ser profético sem pretensão – traz novas possibilidades de viver e amar, através do olhar e da voz singular da sua criadora.

Não deixe de ouvir: Nova TV, Nós de Fronte e Sem Medo.

Nem Tudo É Close, de Lucas Boombeat

O disco de estreia Nem Tudo É Close, do jovem Lucas Boombeat é um verdadeiro ato de resistência. Cantando a sua sobrevivência, a sua vida e a vida dos que já se foram, o discurso do rapper integrante do precursor Quebrada Queer é um discurso cru, muitas vezes dolorido, mas essencialmente necessário.

Quando ele diz que Nem Tudo É Close, ele nos dá uma lição importante: o glamour e a vivacidade da representatividade LGBTQIA+ se assenta numa história, muitas vezes de dor e perdas. Mas não fica nisso, o discurso gira e o empoderamento se torna porta-voz, ao lado de participações como Gloria Groove, Murillo Zyess, Ecologik, Harlley e Bivolt.

Não deixe de ouvir: Guerreiros e Guerreiras, Nave Cor de Rosa e Nem Tudo É Close.

Origem, de Obinrin Trio

O debut do trio formado pelas irmãs Lana e Raíssa Lopes, junto à amiga Elis Menezes não poderia ter sido de outro modo. Evocando o originário, os 4 elementos, as raízes, Origem é um passeio pela origem de cada uma das integrantes da Obinrin Trio.

Com timbres experimentais e uma percussão poderosa, as músicas caminham por uma história sobre a existência e a resistência de um corpo que insiste em revolucionar a si e ao meio em que se finca raízes. Aos vocais simbióticos do trio, somam-se uma série de participações especialíssimas, que vão desde Josyara à Juliana Strassacapa (vocalista da Francisco, el hombre). A sonoridade é um respiro de um novo Brasil que não tem nada de novo; é a origem na qual elas vão atrás – e encontram.

Não deixe de ouvir: Cidade Dorme, Feito Fumaça e Solidão Vira Revolta.

raiz, de Fran

Disco solo de estreia do Francisco Gil (neto do nosso querido Gilberto), raiz é um mergulho nas heranças que formam Fran (como ele assina o disco) enquanto músico e homem. Nessa busca por esse toque ancestral citado em uma das músicas, Fran mescla sonoridades afro-brasileiras, indo do afoxé ao R&B, fincando suas raízes na musicalidade baiana.

Com participações especiais de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Russo Passapusso, raiz é um disco que mostra porque devemos ficar ouvidos atentos à voz por trás de hits como a regravação de “Várias Queixas” (pelo trio Gilsons) e a collab com a Pabllo Vittar “Não Esqueço”.

Não deixe de ouvir: Divino amor, Eu reparo e Afro futurista.

Rastilho, de Kiko Dinucci

Rastilho significa pólvora, aquilo que está prestes a queimar. Mas o rastilho também é uma parte do violão, responsável pela transmissão da vibração das cordas.

O disco do Kiko Dinucci é sobre isso: vibração e faísca. O violão que atravessa as faixas carregado de referências, nos apresenta uma ambiência experimental única que remete ao afrosamba, ao cancioneiro sertanejo e ao que há de mais futurístico na música popular brasileira. Rastilho, segundo trabalho solo do integrante do Metá Metá, é uma viagem atmosférica por experimentações sonoras que conta ainda com as participações de Juçara Marçal, Ava Rocha e Rodrigo Ogi.

Não deixe de ouvir: Olodé, Febre do rato e Veneno.

Amanda Drumont é produtora e roteirista em formação. Atua em São Luís como produtora, curadora, redatora, crítica e roteirista. Escreve conteúdos voltados para música e cinema, além de produzir audiovisual em diversos formatos. Foi uma das juradas do V Rota Festival de Roteiro do Rio de Janeiro. Assume os eixos de produção e financiamento do SobreOTatame.com e sonha em ter um podcast pra chamar de seu.

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