Um brinde aos vinte e tantos anos

Bom dia, linda. Saudades. Abril. 11 meses. Sorriso do abrir ao fechar dos olhos. Impasse. Choro. Muito choro. São Paulo. Estabilizou. Mudança de planos. Psicologia. Saúde mental. Residência. Sobre o Tatame. Fluidez. Catarse. O Lupin. Férias. Viagem. Gente antiga. Gente nova. Ela no mundo. Cabelo longo. Cabelo curto. Fora Temer. Ver-SUS. Milita SUS. Gente nova. Setembro surreal. Cabelo mais curto. Outubro. Vinte e tantos anos. Quase trinta.

Respira! (Foto: See-It-Clear)
Respira! (Foto: See-It-Clear)

Uma guria lá em 2009 teria um surto com esse looping, e entraria em choque se soubesse que em 2016 o tiro saiu pela culatra e que o grande plano fracassou, mas, faz parte do Plano que o outro plano fracasse. Aos vinte a gente planeja a vida em uma cronologia linda. Os acontecimentos seguem uma lógica perfeita. Sem curvas. Sem cerrar a embreagem no meio da ladeira mais íngreme. Sem estancar. Tudo é reto e fluido.  O sucesso é logo ali, vai a 100 km/h que chega mais rápido. Engano dela. Engano nosso.

O plano original não contava com os percalços, as intempéries, nem com as recrudescências. Tudo muda, inclusive você. Inclusive ela. Que agora está sentada, com uma garrafa de vinho ao lado, escrevendo sobre os últimos trezentos e sessenta e cinco dias. Quase sete anos depois de ter feito uma lista sobre como deveria ser a vida depois dos vinte. Se fosse possível, gostaria que ela, aquela guria de 2009, soubesse que deu tudo errado, sorte dela!

A graduação atrasou, fez algumas escolhas que lhe custaram anos de atraso profissional. Não estava morando sozinha aos vinte e cinco e o carro não era o modelo sonhado. Quanto mais se ganha, mais se gasta. Passou aperto e aprendeu a economizar. O coração parece que vive na corda bamba, e sempre cai por falta de equilíbrio, fechou para balanço. Trabalhou na mesma área por sete anos, mas isso não foi de todo ruim. Perdeu pessoas, familiares e amigos. Sentiu dor.

Foi duro e ainda tem sido, crescer dói.  Mas, olhando bem, ela percebe que o universo seguiu sua própria lógica. Não fosse o tempo perdido em um curso que odiava, algumas pessoas cruciais estariam de fora. Se tivesse saído de casa antes, teria experimentado, cedo demais, um sentimento que só agora consegue administrar bem, a solidão da própria companhia, aprendeu a bastar-se. Sem contar que: ninguém cuida tão bem dela quanto a mãe.

Aos vinte e tantos anos ela já sabe que é preciso ter cautela com as expectativas. Que frustrações resultam em noites mal dormidas e dores nas costas. Disciplina é fundamental para algumas conquistas acontecerem. Trabalhar com o que se ama não é utopia, é possível, mas demanda constância e bravura. Tombos dolorosos irão ocorrer. Então, é sempre bom ter um colo para onde correr, não importa quantos anos você tenha.

Os vinte e seis foram dureza, com uma pequena ressalva: Que ano incrível. Vide primeiro parágrafo. Se não fossem essas novas dores na lombar e costas, ela entraria nos vinte e sete com mais vigor. Mas, dizem que a idade tem seu preço; se já fossem as rugas…. Ah, aí sim ela estaria preocupada.

Joceline Conrado é psicóloga de orientação psicanalítica. Atua em São Luís como psicóloga clínica e no terceiro setor, na gestão e implementação de projetos sociais. É redatora e da área de planejamento no SobreOTatame. Se interessa por temas relacionados a gênero, psicanálise e questões raciais. Gateira e leitora compulsiva.

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