Vivos, transantes e cheios de (pre)conceitos: os ingredientes fundamentais para o vírus da AIDS

Ele levou Cazuza, levou Freddie Mercury, levou o intérprete do extraterrestre Etevaldo, do Castelo Rá-Tim-Bum. Levou, também, Caio Fernando Abreu, tirou de nós Renato Russo e silenciou o mestre Betinho. Além de Foucault. Hoje ele abraça o Magic Johnson, o Charlie Sheen, o amigo da Jout Jout, dos vídeos, e milhões de pessoas pelo planeta. Jovem e devastador de “apenas 30 anos”, o vírus HIV, causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), nos chama outra vez:

Eu estou vivo. E entre 827 mil brasileiros como vocês.

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E possivelmente estou nessa festa também. (Foto: Reprodução)

Somos ingênuos, amigos. Muitos de nós trepam sem camisinha porque é mais gostoso, mais bacana, mais sensível, mais legal, mais surreal e único. Muitos de nós não titubeamos quando aquela pessoa que nos dá tesão, nos dá mole tudo ao mesmo tempo sem vírgula sem respiração porque tá acontecendo um clima bom e a gente não pode parar. Se parar pra pensar e catar a camisinha, o clima pode morrer e, para nossa derrota, aquela foda bem dada pode apenas permanecer em nossos mais calientes sonhos. E ele ou ela – ou eles e elas – eram bonitos, jovens, aparentemente saudáveis, seguros, mentes abertas, destemidos, quentes, vividos, bem sucedidos no universo e não se podia perd…..PARA!

[atualização de dados]:

E ele ou ela – ou eles e elas eram… Pessoas.

Bastou tá vivo pra ter AIDS. É essa a verdade, amigos. Pode ser preto, branco, azul cafuzo, mameluco cor-de-rosa, blonde girl, garotão, tiozão, solteirona, bicha, machão, homo, hetero, bi, tri, médico, boleiro, professora, lavadeira, dona de casa, motorista, diplomata, cult e etecetera  –  e até mesmo não transante. Mas bastou todos nós estarmos vivos, bem vivos, para corrermos o risco de encontrá-lo.

Nossa ingenuidade é dúbia: ou a grama do vizinho é mais verde que a nossa; ou isso ou aquilo só acontece com os outros. Nossa leve mesquinhez nos faz crer que podemos estar acima do bem e do mal, e de uma porra de um vírus minúsculo. Se não conseguimos lidar com situações menores ainda – releia o negrito – que nos escapam todos os dias, o que nos faz acreditar que sempre, ou quase isso, não seremos atingidos por uma avalanche de limitações, como uma briga, um acidente, uma perda qualquer e uma contaminação viral?

Filhos maravilhosos da era da informação que somos, pensamos que estas mesmas notícias que nos chegam habitam apenas o mundo virtual, inexistente e manipulado. Um outro mundo diferente do qual eu vivo, do qual estou inscrito, do qual minha família e amigos fazem parte. A AIDS não é invenção da Netflix. Ela, neste momento, está se apossando de alguém que talvez você já tenha beijado, transado, mandado pra puta que pariu; alguém que você segurou a mão, sentou-se no mesmo banco; usou o mesmo banheiro; esbarrou em você no meio da praça. Uma pessoa.

A única condição que faz do vírus, vivo.


Nota do editor: O recado do texto é um lembrete sobre a importância da busca por informação e conscientização acerca da AIDS. Lembrando que no dia 1º de dezembro é a data escolhida para a campanha do Dia Mundial de Luta Contra a AIDS. Portanto: se informe, previna-se e quebre o preconceito a respeito desta doença.

Clicando aqui você pode baixar um PDF com diversas informações sobre a AIDS.

Revisão: Edízio Moura

24 anos de Leãonicidade com ascendente em Literatura, acredita que a razão da vida é ser próximo ao outro com requintes de amor. Amante de todas as cores e apaixonada por todos os sons, afoga suas sentimentalidades e exorciza o espírito humano com ajuda dos livros. Tenta disseminar suas caminhanças no Paro e Me Pergunto e, também, no The Book Is The New Coffee.

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